Nos últimos tempos a sociedade
tem se digladiado por conta de percepções distintas com relação aos
acontecimentos políticos e sociais do nosso país. Famílias se desentendendo,
seja no café da manhã ou nos grupos de whatsap. Amizades e relacionamentos abalados
por convicções sobre assuntos que nem mesmo especialistas conseguem encontrar
denominador comum.
É fato que a maioria nunca
participou se quer de reuniões de bairro. Na escola, muitos olhavam de forma
preconceituosa para aqueles alunos que participavam do grêmio estudantil. Na
faculdade, jamais contribuíram com o centro acadêmico de seus respectivos
cursos. Agora, todos somos cientistas políticos. Todos temos opinião formada e poucos
estão dispostos a escutar e a enxergar além das manchetes sensacionalistas dos
jornais. Buscar informação além da publicidade transvestida de jornalismo para
embasar argumentos é algo raro.
As teorias de Marx, que despertam
incomodo em muitos e a compreensão de poucos, guardadas as devidas proporções,
ainda são atuais e servem sim para refletir, mesmo escritas a mais de cem anos.
Embora a sociedade negue, o ranço e o ódio de classes ainda está presente, nem
que seja inconscientemente.
Outro fator interessante de se
observar, é a necessidade constante da criação de heróis e vilões. A população
acaba sempre sendo refém da boa vontade de santidades e da maldade dos vilões e
nunca é vista como ator principal dos acontecimentos. Na inércia do sofá de casa,
esperamos que Cristo volte para salvar o mundo e assim nos sentimos isentos da
responsabilidade sobre os problemas. Gritamos pelo fim da corrupção, mas não
perdemos a chance de sonegar imposto, ultrapassar pelo acostamento ou furar a
fila do supermercado.
A única certeza nesse Fla-Flu, ainda vai
demorar muito para que nós possamos evoluir e sermos menos egoístas em nossas ações
e convicções. Nesse momento, enquanto escrevo, famílias indígenas são dizimadas
por fazendeiros, militares abusam de jovens negros nas favelas, na paulista,
selfies são regados a champagne.
Um país continental como o
Brasil, colônia de exploração, saqueado pelos gringos antes mesmo de Cabral aqui
chegar, com uma dívida pública, que inclui divida interna e externa, que atinge
mais de 2,496 trilhões de reais (Fonte: Tesouro Nacional -2015), não terá seus
problemas solucionados com medidas simplistas e discursos de ódio. Justiça sim,
ilusão não. A mudança começa em você. Então, pelo visto, seguindo o rumo da carruagem,
deve ficar pra próxima.
Meus heróis? Morreram de
overdose.
#textão #reflexão